terça-feira, 27 de novembro de 2007

Amanhecer Cor de Rosa...



O chão amanhecia coberto por um tapete "pink" da cor das flores daquela árvore...
Era a estação que anunciava a chegada de mais uma safra de jambos.
Primeiro, eram pequenos botões que brotavam dos galhos como gotas em tons verde e rosa; depois acontecia uma grande explosão de penachos que mais pareciam pequenos espanadores, como aqueles que as mulheres mergulham no pó de arroz e espalham em suas faces...
E aí, o vento soprava, os galhos se agitavam e aqueles penachos se desprediam do alto da árvore promovendo uma chuva cor de rosa...
Lembro-me que ao brincar sob o teto cor da "Mangueira", descobríamos muito mais que brincadeiras, descobríamos o quanto se pode ser feliz...
Então, brincávamos de auto-maquiagem, de casinha, observávamos as incessantes abelhas negras, trabalharem dia após dia na fabricação do mel, e ainda víamos pássaros fazerem festa só de passagem ou elegerem aqueles galhos como sustento para o seu ninho...
Era com a chegada de mais uma florada que esperávamos ansiosos pelo fruto que iríamos colher.
Fruto perfumado, rubro e de polpa suculenta, que de tudo se aproveitava, jogando-se apenas o caroço.
Eram dias de comilança, de se escolher os melhores frutos para se fazer géleia e disputar com aqueles que passavam na rua, com olhares invejosos, o "nosso patrimônio".
Por muitas vezes, escalavam o muro de nossa casa e quando menos esperávamos, os invasores recolhiam sacolas de frutos longe dos nossos olhos...
Mas, essa árvore era generosa, tão generosa que, dependendo da safra, junto com o tapete pink surgia uma lama perfumada que vinha dos frutos espatifados no chão pelo vento vigoroso.
E aquele cheiro se impregnava da entrada da casa à cozinha, do chão às panelas repletas de jambo e açúcar que mais tarde se transformariam em geléia, geléia de perfume...
Por muitos anos, nos vimos assim, dia após dia recolhendo frutos no pé para comermos, para darmos outros de comer, para praticarmos a generosidade, para nos sentirmos felizes...
O tempo passou e as lembranças da minha infância se perpetuaram em uma árvore, a qual eu chamo de casa, sim, eu não tinha uma casinha na árvore, ela era a minha própria casinha...
Há alguns meses, meus pais se mudaram e dia desses passei por lá, minha árvore já não mais existia...
O que teriam feito com a minha casa?!
Não importa, eles jamais entenderão o que é amanhecer um dia cor de rosa...

Um comentário:

Jini disse...

É Aninha... podem cortar nossa casinha, mas aquela vida cor-de-rosa ninguém nos pode roubar. Saudades... :(